
O esôfago sangra, a garganta dói em nó, a língua saliva abundantemente com a intenção de ‘lubrificar’. O estomago começa a se sentir rejeitado pelo corpo. E quer sair – talvez até saia tamanha força da contração.
Os olhos levemente escurecem. O pescoço enrijece. Os dentes rangem. Aiii... É a náusea de novo.
A mente finalmente embaralha... O delírio não febril começa... O problema de tudo é o medo... Medo do pensar... Medo do crer no pensar... Medo de ser o pensar...
Caio F. diz: “você só tem que escrever se isso vier de dentro pra fora,... Então vai, remexe fundo,... Tira sangue com as unhas. E não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. Mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te. Você não está com medo dessa entrega? Porque dói, dói, dói. É de uma solidão assustadora.”
Mas e como faço se mesmo com o medo ainda quero? Quero sangrar... Quero sentir essa dor... Quero colocar em palavras o que sou.
É um auto-exorcismo, tens razão... Mutilo-me numa ação sádica ao expressar-me por palavras... Dá para sentir vergonha da gente mesmo? Vergonha do que a gente mesmo escreve?
Como pode ser tão grotesco e ao mesmo tempo tão apaixonante se conhecer... Se ler?
E como posso, mesmo depois da paixão declarada, desejar insanamente apagar palavra por palavra? Garantir que mais ninguém lerá aquilo... Acho que isso é parte de minha não aceitação, não é? Parte de meu eu rejeitada por eu mesma.
Vou continuar tentando... Um dia me convenço... Um dia quem sabe consigo ler...
A gente pode fazer assim - é um trato – posso escrever como se fosse para você, o que acha? Assim quando eu ler será para você e não para mim, e não serie eu a ter que aceitar o que leio, essa tarefa será tua... Se aceitares me alivie o peito... Se não, embaralhe-me mais a mente... De qualquer forma virá a (in)compreensão sangrada de mim... Ou por mim, ou por você.